hoje te vi pelo buraco da fechadura. você não parecia muito contente. engraçado que sempre te encontro assim, meio sem sorrir, mas com ar tranquilo de quem nada tem a se preocupar. ele tagarelava ao seu lado, falando das coisas que você nunca quer saber. você estava linda. eu, com medo de ser notado, desencostei da porta e fui buscar um café. essa é sempre uma boa desculpa para estar de pé; foi você quem me ensinou.

claro que eu fantasiei a sua entrada por aquela porta, abandonando seu companheiro de caminhada e vindo em minha direção. deve ser meio babaca isso, né? por que sonhamos em forma de clichê?  bom, mas no meu clichê você corria na minha direção, sorrindo aquele sorriso que quase nunca vejo, e me beijava.

mas você não parou. não me olhou. não sorriu. e eu tive que voltar ao meu trabalho, enquanto o barulho incomodo do ar condicionado me levava para outras ilhas,  outro canto qualquer. e você passou. sabe-se lá pra onde foi. nos meus sonhos, você pensava em mim. mas deveria estar pensando mesmo era naquele filme que está querendo assistir.

pensei até em te chamar pra ir ao cinema, mas achei que você não aceitaria. não conseguimos nem tomar aquele sorvete que queríamos tanto. ou será que era eu que queria muito e você ia só me acompanhar?