Depois de 3 anos, resolvi voltar para as ruas dessa cidade, o blog onde costumava postar contos que eu mesma achava bobos, mas que precisam de espaço pra que eu não ficasse maluca com eles na minha cabeça. Volto porque acho que essa coisa só de postar coisas no facebook não organiza as ideias, e porque um tal de Tiago Madeira colocou esse bichinho da vontade de escrever de volta na minha mente. Preciso reorganizar as ideias.

Volto, depois de tanto tempo, outra. Já não sou a garota de 2009. Muita coisa aconteceu. Mas alguma coisa segue aqui: essa inquietação que me faz querer colocar palavras pra fora. Claro, os motivos podem ser diferentes. Mas o desejo de colocar isso em um lugar, de organizar a minha vida em palavras, segue. Vamos ver o que é que sai! (:

Acordou um pouco apática. Tomou banho, mas não teve vontade de olhar o tempo lá fora. Colocou música, cantarolou Better, da Regina Spektor, enquanto pensava que poderia ter uma boa desculpa para não sair de casa. Na verdade, sabia que não acharia nenhuma, e nem teria coragem de faltar sem motivos ao trabalho. Mas sentia uma vontade enorme de não abrir as janelas, apagar a luz e deitar novamente. Não, não sentia sono. Era a idéia maravilhosa de ficar ali, no escuro, alheia ao mundo barulhento e cinza lá fora, que a perturbava.

Mesmo assim, foi tomar café, enquanto sua tevê contava que o trânsito (novidade!) estava um inferno. Resolveu que iria de metrô, mesmo sabendo que estaria lotado. Pegou sua Convidada, de Simone de Beauvoir, e foi andando. Escutava Drexler, pensando que Inoportuna mesmo era aquela inquietação que a estava dominando. Viu, no caminho, uma família de moradores de rua sentados na calçada. Resolveu fotografar. Sabia que seriam mais fotos clichês sobre um tema considerado clichê. Não que fotografá-los em si não fosse interessante, mas nunca foi uma fotógrafa autêntica, original. Clicava “mais-dos-mesmos” sempre.

Quando chegou ao trabalho, leu as manchetes dos principais jornais. Era importante para uma jornalista se manter informada. A redação do jornal onde trabalhava era pequena, afinal, jornal de bairro é isso mesmo… Leu uma notícia sobre Cuba, e no meio do blábláblá de sempre, encontrou um especialista falando que Che Guevara era um dos últimos heróis da história. E que não fazia parte da pós-modernidade a idéia dos grandes heróis.

Aquilo mexeu com ela. Ficou pensando sobre o do yourself que havia dominado até a política. Pensou nas discussões na época da faculdade sobre os “independentes”, que sempre acabavam não conseguindo fazer nada, porque não queriam se envolver num grupo. Pensou ainda em todas as coisas que tinha feito até agora. Que coisas mesmo?

E assim, sem saber exatamente como tinha ido do sonho de “fazer jornalismo para mudar o mundo” para o “pautas sobre os melhores restaurantes para os dias dos pais”, começou o seu trabalho. Procurou na internet notícias sobre o bairro do jornal, ligou para os anunciantes querendo saber se tinham novidades, fez tudinho igual a todos os outros dias. “Melhor eu não pensar mais nessas coisas… tenho mais o que fazer, afinal…”

engraçado essa nossa coisa de se sentir sozinho, né? porque eu tava aqui pensando, entre uma parada e outra desse ônibus, que talvez a vida seja isso mesmo: um monte de batalhas solitárias. mas a gente sempre acaba buscando alguém para dividir alegrias e tristezas, uma coisa meio bizarra, como se o mundo fosse pesado demais para levar sozinho…

mas aí hoje eu acordei com um nó na garganta e não tinha ninguém para segurar a minha mão. o que eu poderia fazer, senão chorar sozinho, entre meus lençóis, e torcendo pra que ninguém no ônibus notasse meus olhos inchados. não notaram. ou não se importaram. desci, ainda pensando que o mundo é algo só de um, e não de dois, três… trabalhei, fui embora. nada. cheguei em casa, e você me sorriu aquele sorriso bonito, quase infantil, que você sempre dá. mas dessa vez o peso do mundo não foi embora. não. ele pareceu maior, como se esse sorriso só confirmasse aquilo que eu temia desde o início: somos sós no mundo.

te abracei um abraço triste, de quem já  não pode mais esconder nada. você mal pode compreender esses meus pensamentos. eu estou só. mas nós somos sós. e o que podemos fazer? quando tudo chega nesses termos, é hora de dizer adeus. entendi que caminhos não são trilhados em conjunto. cada um vai no seu, caminhando só, mas em alguns pontos acabamos cruzando o caminho de outro. e se paramos para nos distrair, chega o momento em que precisamos voltar a caminhar o nosso caminho, e a solidão pode até pesar um pouco na nossa mochila, mas quem disse que tinha que ser fácil?

quando você saiu, entre lágrimas, me disse algo bonito: “ainda te quero bem…”, você tocou fundo. e eu ainda te amo. e a vida é assim mesmo, fazer o que…

Hoje, como usualmente, me sentei na janela pra esperar. Esperar alguma coisa que talvez não venha. Como estou esperando a muito tempo, peguei meu laptop e comecei a escrever essas linhas, bobas, eu sei, para matar o tempo. Mas o tempo tem se tornado duro na queda e,  por mais que eu espere sentada, escrevendo, ouvindo aquela música que é sua (mas não é minha – muito menos nossa…), o tempo passa vagarosamente… ele não quer saber se estou cansada, e se meus cotovelos estão ficando doloridos de tanto que ficam segurando o peso do meu corpo enquanto aguardo. Ele passa no tempo dele, só dele, e de mais ninguém.

E enquanto espero na janela, passam pessoas, conhecidos, e eu tenho que sorrir e acenar… foi assim que eu aprendi a ser, fingindo que estou apenas olhando pela janela, deixando a entender que estou feliz (talvez seja aquele sorriso que insisto em dar quando as pessoas dizem “oi, tudo bom?”). E fico aqui, sentada, corpo meio inclinado para frente, conversando com a solidão que insiste em esperar comigo. Prgunto a ela se ela ão tem outras coisas a fazer, outros que precisem dela. Mas ela diz que eu sou quem mais precisa da presença dela, da sua não-companhia… Engraçado, né? Por que, afinal, estou esperando companhia e não isso…

Ah, mas a vida é assim mesmo, fazer o que. Já tentei sair da janela, passear por aí. Mas é nesses momentos que você passa na frente da minha janelinha, e eu nem te vejo. Será que você se esconde de mim? Será que só passa quando estou no banheiro? Pode ser isso. Mas não tenho certeza… e continuo te esperando nessa janela fria, vendo a vida passar…

me sinto só. talvez seja porque o seu corpo quente nessas noites de verão não me é mais suficiente. sinto-me suforcar pela sua respiração ritmada perto do meu ouvido. e seu suspiros, quando estamos juntos, não mais me alegram. não é que eu não te ame mais, entenda. até amo. mas quando isso já não basta, o que mais me entristece é saber que te bastaria essa vidinha que estamos levando. por você, poderíamos nos trancar nesse apartamento, viver de amor e macarrão instantâneo. e eu querendo sair para comer no japonês. você tem medo do mundo. eu quero um mundo mais meu.

 

deve ser por isso que esse apartamento parece cada vez menor. estou cansada das suas histórias. você, das minhas reclamações. e a porta do banheiro continua rangendo…

andando pelas ruas, por essas ruas, ela não sabia direito no que poderia fazer para melhorar aquilo que ela não era. sim, o que não era mesmo. bom, melhor explicar… é que tinha ela, Fabiana, advogada, solteira, amiga, baladeira. e tinha o que ela não era, mas que era em seus pensamentos. mas essa ela é mais difícil de por em adjetivos ou substantivos. era uma versão mais light, menos corajosa. era a versão dela que não enfrentava o mundo.

não que ela não gostasse de ser aquilo que era. gostava sim. adorava seu trabalho, seus amigos, sua família. adorava a falta de rotina, o cachorro, os passeios de bicicleta. e o que mais gostava era aquele sentimento quase doído de que ela se valeria por ela mesma, que não tinha ninguém que fosse por ela. porque suas amigas tinham marido, filhos, sogra.  ela não. sabia que a única pessoa que se importaria era o tom, o labrador mais lindo do mundo.

mas a outra ela, a que ela não era, essa dependia de todos. não que fosse casada, não era (ela achava absurdo fantasiar uma vida que em nenhum ponto se encontrasse com a dela). mas tinha um namorado carinhoso, e a família dele a amava. pois é. bizarro pra quem ve assim, de sola, mas ela via naquelas fantasias uma forma de se libertar da obrigação de ser aquilo que era.

parou a bicicleta e sentou  num banco da praça. notou que estava bastante longe de casa, que tinha ido mais longe que o normal. mas não havia problema, ela sabia bem onde estava. só não sabia por que estava ali naquele momento. olhou a janela da casa dele. não gostava da sensação de mistura da realidade com os seus sonhos. odiava isso. mas sempre que se perdia no não-real, acabava por fazer aquilo.

ele apareceu na janela, pensativo. sim, era ele, o seu não-namorado, que morava com a sua não-sogra. ela se sentiu enrubrecer só de pensar que ele podia estar olhando na direção dela. porque ele não sabia que ela o tinha em seus sonhos, mas mesmo assim, ela teve medo. pegou sua bicicleta e votou para casa  o mais rápido que pode. “onde já se viu ele querer aparecer de verdade?”

 

rodrigo olhava pela janela procurando inspiração. era nessa posição que gostava de imaginar uma outra realidade. para ele, era uma forma de parecer que o mundo era mais bacana do que ele realmente era. viu uma garota andando de bicicleta, com pressa. ela parecia com a garota dos seus sonhos, só que essa era mais meiga.

bom, ela nunca falara, na vida real, mais do que “bom dia, rodrigo”, mas ele ficava feliz que ela sabia o seu nome. um dia, ela comentou sobre a gravata dele, disse que era elegante. foi aí que ele começou a imaginá-la como sua namorada. “minha mãe ia adorá-la”, pensou. mas nunca teve coragem de falar com ela. sabia que a fantasia era muito melhor que a realidade.

hoje te vi pelo buraco da fechadura. você não parecia muito contente. engraçado que sempre te encontro assim, meio sem sorrir, mas com ar tranquilo de quem nada tem a se preocupar. ele tagarelava ao seu lado, falando das coisas que você nunca quer saber. você estava linda. eu, com medo de ser notado, desencostei da porta e fui buscar um café. essa é sempre uma boa desculpa para estar de pé; foi você quem me ensinou.

claro que eu fantasiei a sua entrada por aquela porta, abandonando seu companheiro de caminhada e vindo em minha direção. deve ser meio babaca isso, né? por que sonhamos em forma de clichê?  bom, mas no meu clichê você corria na minha direção, sorrindo aquele sorriso que quase nunca vejo, e me beijava.

mas você não parou. não me olhou. não sorriu. e eu tive que voltar ao meu trabalho, enquanto o barulho incomodo do ar condicionado me levava para outras ilhas,  outro canto qualquer. e você passou. sabe-se lá pra onde foi. nos meus sonhos, você pensava em mim. mas deveria estar pensando mesmo era naquele filme que está querendo assistir.

pensei até em te chamar pra ir ao cinema, mas achei que você não aceitaria. não conseguimos nem tomar aquele sorvete que queríamos tanto. ou será que era eu que queria muito e você ia só me acompanhar?

fiquei pensando em todas aquelas coisas que eu já ouvi você dizer sobre mim. e sobre nós. sobre o que somos ou, como você adora lembrar, o que não somos. não sei viver assim, meu caro. não sei ser essa pessoa que só te procura nos momentos improváveis. sim, só sei mesmo falar de amor, que é aquilo que inspira meus textos. não que eles sejam bons para falar em inspiração, mas eu sou assim mesmo. vou fazendo e vendo no que é que dá. foi assim que me aproximei de você e te beijei. pra ver no que dava. deu que ainda somo amigos, mas que hoje te olho diferente. porque existem palavras proibidas. não há nada pior em qualquer relação do que palavras proibidas.

e você ainda enrubrece quando falo dos seus beijos, dos nossos beijos. prefere se esconder nesse papel de melhor amigo, me contar sobre todas as garotas lindas que você observa no trabalho. prefere me lembrar que sua ex-namorada é uma babaca porque não fala mais com você.  e me dizer, rindo, que às vezes acha que nunca vai ser bom pra ninguém. 

e eu fico me perguntando por que estamos aqui. por que estou escrevendo essas coisas todas, falando sobre o que não existe. escrevo ao acaso o que sinto. mas não sinto de verdade. são palavras soltas, histórias falsas. eu queria mesmo era me apaixonar…